Por Ricardo Coelho dos Santos

No Movimento Escoteiro, organização criada para a formação da juventude, aqueles mais velhos que hoje ocupam tanto o corpo docente da instituição, os chamados Chefes Escoteiros, como os que se encarregam da administração, os Dirigentes Escoteiros, brincam com a idade, dizendo “eu sou jovem há mais tempo que você!”.

Há uma razão de ser nisso. Se o Escotismo foi feito para o jovem, ninguém, entretanto, afirmou qual seria a idade desse jovem. Os Chefes e Dirigentes Escoteiros não esquecem, no meio do trabalho voluntário que exercem com zelo e responsabilidade, que há sempre um lugar para atividades lúdicas, inclusive para transmitir os folguedos aos rapazes e moças sob suas tutelas.

Tanto para se ser Chefe ou Dirigente Escoteiros, deve se passar por três níveis de preparo: Preliminar, Intermediário e Avançado, sempre sob uma assessoria de um companheiro mais experiente.

Enquanto os Chefes se concentram na pedagogia, os Dirigentes estão focados na administração. Como tanto uma coisa como outra estão em permanente evolução, até mesmo impulsionadas pelas nossas contribuições, muitos grandes empreendedores no Brasil e no Mundo aprenderam efetivamente a gerir seus negócios desde rapazes ou moças, com seus pares nas Tropas Escoteiras, Tropas de Seniores, mais velhos, ou Clãs Pioneiros, composto por jovens adultos.

O sucesso do Movimento Escoteiro, positivamente, é sentido em grandes organizações como a Nasa, a Microsoft ou a McDonnell Douglas e até citado elogiosamente pela revista Forbes. Indiscutivelmente, quem é Escoteiro, de qualquer idade, tem um indisfarçável orgulho de participar dessa que é a maior organização educacional do planeta, só não praticado na China, em Mianmar, Cuba, Laos e Coréia do Norte.

E o Espírito Santo bebe da taça desse sucesso. Recentemente, o Escotismo Capixaba completou 110 anos nesse último dia 14 de junho, uma data que ainda está sendo celebrada.

Não possuímos um registro histórico que sirva de testemunho à essa época. O que já tivemos foi lamentavelmente destruído por inconsequentes atos de vandalismo. Resta, então, pesquisas feitas em jornais da Hemeroteca Nacional. E, só daí, já se tirou muitas preciosidades.

A data lembra as correspondências entre o pastor Loren Marion Reno e o fundador mundial do Movimento Escoteiro, Robert Stephenson Smyth Baden-Powell, de onde se fundou o Centro de Boys Scouts de Vitória. Isso foi revelado no excelente livro “História do Escotismo Brasileiro — Volume I — Tomo I — 1910–1924 — Os Primórdios do Escotismo do Brasil” do Almirante Bernard David Blower. Mas, nessa obra, há muito pouco para ser aproveitado sobre nosso Estado.

A pesquisa então prosseguiu e se descobriu que o ápice do Movimento Escoteiro no estado se deu nos finais da década de 1920 e início de 1930, até a época de João Punaro Bley, que foi imposto pelo Governo Vargas. Foi quando foi fundada a Federação Espírito Santense de Escoteiros e um Campo-Escola Escoteiro para a realização de cursos práticos para adultos voluntários. Não se sabe se houve, no Brasil, algum local desse tipo naquela época para tal finalidade.

Muitas pessoas que hoje dão nome a ruas, rodovias, escolas e até uma cidade despontaram no Escotismo, então. Começamos com Attílio Vivácqua, o maior responsável pelo grande sucesso, seguido por Ely Junqueira, Placindino Passos, Silvio Rocio, Antônio Gil Veloso e Ernesto Guimarães, que foi juiz e escritor, sendo autor dos preciosos registros jornalísticos daqueles momentos. Com o passar dos anos, tivemos ainda Mário Gurgel, Carlos Imperial e Luiz Paulo Veloso Lucas.

As comemorações dos 110 Anos são modestas, mas bem significativas, e prosseguem até o dia 5 de agosto. Cada Unidade Escoteira Local está assoprando velas sobre bolos confeitados, celebrando uma missa e registrando seus feitos com fotos plenas de sorrisos de satisfação.

O Escotismo Capixaba hoje se destaca no cenário nacional. Se há trinta anos dependíamos de Escotistas e Dirigentes de fora do estado para ministrar cursos para os nossos voluntários adultos, hoje, temos membros na primeira linha da administração e de várias equipes nacionais e até estamos sendo reivindicados para ocupar posições de destaque no cenário escoteiro brasileiro. E isso, em um país onde o Escotismo está em destaque mundial com coordenadores de ações internacionais e iniciativas acompanhadas por todo o mundo escoteiro.

A quantidade de escoteiros do Brasil está ficando cada vez mais significativa, com apoio da União Parlamentar Escoteira, formada por políticos simpatizantes ao Movimento, e com os Embaixadores do Escotismo, que são pessoas famosas que viram no Movimento algo que vale a pena representar, como a atriz Maria Paula, o ator Luiz Gama e o apresentador Celso Cavalini.

Mas, mesmo bebendo o vinho do sucesso, o Movimento Escoteiro no Espírito Santo tem muito ainda a fazer ante seus desafios. Não possuímos mais nem sede própria e nem Campo-Escola. Temos um escritório funcionando num espaço de co-working e dependemos da boa vontade de diretores de escolas para a realização dos nossos Cursos. Claro, há de se pensar que temos desafios simples, mas não são. Apesar de sermos protagonistas da educação tanto no país como no mundo, ainda somos confundidos como uma organização paramilitar, inclusive porque Baden-Powell era um militar condecorado. Mas, como teria dito Montessori, a filosofia da grande mestra foi percebida por um soldado antes dos professores.

Vamos agora aguardar o Escotismo Capixaba no seu próximo Centenário!