Por Erlon José Paschoal *
Assistimos novamente impotentes a mais um ataque insano perpetrado pelos israelenses, com o aval e apoio tecnológico dos norte-americanos, aos territórios palestinos na Faixa de Gaza e da Cisjordânia. Usando como pretexto a reação real de grupos palestinos às agressões sofridas diariamente, Israel destrói o abastecimento de água e luz de mais de dois milhões de pessoas, impede o acesso a combustíveis, telefonia e alimentos; assassina milhares de cidadãos; explode centenas de edificações e lança bombas em dezenas de alvos civis. Os milhares de refugiados, feridos e mutilados, após esses bombardeios não passam de pequenos efeitos colaterais, comuns neste tipo de operação, segundo declarações oficiais dos verdugos. Isso tudo por enquanto, pois parece que a sede de vingança e de aniquilação do governo de Israel não vai parar por aí.
Depois de invadir territórios palestinos ao longo das últimas décadas, erguer um muro de 721 km, 8m de altura, trincheiras com 2m de profundidade, arames farpados e torres de vigilância a cada 300m; obrigar milhares de palestinos a viverem empilhados nos pequenos espaços restantes e controlá-los como se estivessem em um Gueto, a situação humana tornou-se desesperadora. O mapa da Palestina tem sido redesenhado à força nos últimos anos através dessas invasões sistemáticas, dos assentamentos e das ocupações ilegais do território palestino, sob o olhar complacente da comunidade internacional.
Por uma dessas tragédias irônicas da História, o extermínio acompanha de perto o povo judeu: numa época foi vítima, agora transforma-se num carrasco implacável. Freud certa vez escreveu que o torturado quando assume o papel inverso torna-se ainda mais frio e cruel. Um triste e lamentável espetáculo mostrado todos os dias pelas TVs e jornais de todo o mundo: pessoas indefesas tentando se proteger de armamentos sofisticados e bombas inteligentes; feridos empilhados em hospitais improvisados e crianças com o horror estampado no rosto. Sintomático e triste também é o fato de que fascistoides do Brasil e de vários outros países se identifiquem com esse Estado de Israel, impiedoso e genocida.
Vale lembrar que o descaso pela vida do muçulmano propagado e inculcado pela mídia norte-americana nos corações e mentes ocidentais nas últimas décadas, significa um retrocesso no processo civilizatório e um golpe fatal na aproximação necessária entre culturas distintas, num mundo que tende cada vez mais a se globalizar e a se interconectar.
Anos atrás, por exemplo, vi uma foto de um soldado israelense armado dos pés à cabeça comemorando a morte de alguns “rebeldes” palestinos, supostos terroristas do Hamas. Via-se em suas feições e em seu sorriso caricatural, em meio a todos os instrumentos sofisticados que compunham a sua armadura, a imagem da barbárie de nossa época. Afinal, quem são os mais “primitivos”, os palestinos assassinados com seus trajes tradicionais ou os carrascos fardados que celebram a morte?
Quem é mais assassino afinal: aquele que amarra explosivos ao corpo e vai para os ares junto com eles, ou aquele que de um avião, de um tanque ou de um navio, lança uma bomba teleguiada a centenas de quilômetros de distância? Há como comparar?
Os norte-americanos, parceiros incondicionais de Israel nessa empreitada, com suas bilionárias máquinas de destruição em massa, aproveitaram a longa invasão do Iraque e no Afeganistão para testarem novas armas assustadoras e de enorme poder exterminador do passado e do presente, como fazem agora na Ucrânia, além de exercitarem insólitas técnicas de tortura. E novamente se colocam como assessores e cúmplices nessa nova destruição high tech.
Acompanhamos, na mídia unilateral da informação, que os senhores da guerra têm tido êxito nessas intervenções, não só no consequente número indiscriminado de mortes, mas sobretudo no aumento da taxa de crescimento econômico resultante da expansão do mercado da indústria bélica e no aumento aterrorizante do petróleo.
Eles impõem a vários países sanções e leis arbitrárias que absolutamente não levam em consideração a História ou as tradições dos países atingidos. Com a consequente desqualificação dos organismos internacionais incumbidos de arbitrar conflitos, não há quem erga a voz para apelar ao bom senso e defender os direitos de todos os povos que querem seguir o seu próprio caminho sem a ingerência dos megalomaníacos do Pentágono ou, nesse caso, de Israel. A morte, o extermínio, a eliminação pura e simples dos supostos inimigos passaram a ser, ao que parece, as principais diretrizes dos atuais dirigentes daqueles países dominadores.
O atentado cometido contra os direitos civis e humanos mais elementares, mostrado a todo momento pela mídia internacional em fotos que misturam sadismo, horror, prazer macabro, indiferença e desprezo pela vida do outro, faz-nos lembrar imediatamente as técnicas fascistas de humilhação e aniquilação aplicadas num passado recente.
Não se trata, portanto, de sermos a favor ou contra o judeu, a favor ou contra o muçulmano, a favor ou contra o norte-americano.... Trata-se apenas de sermos a favor da vida, do respeito mútuo e da dignidade humana. E sobretudo, precisamos responder à questão: quando a Palestina terá seus direitos a ser um país independente reconhecido pela ONU e pela comunidade internacional?
O momento atual exige cada vez mais de todos os indivíduos sensatos e íntegros posições mais firmes contra a ganância desmedida e o extermínio de povos e culturas, antes que seja tarde demais.
Que o bom senso, a solidariedade e os sentimentos humanos prevaleçam!
* Gestor cultural, Diretor de Teatro, Escritor e Tradutor de alemão.