Por Guilherme Henrique Pereira
O título acima foi tomado emprestado a Herton Escobar, o mais conhecido e produtivo jornalista brasileiro especializado em divulgação científica. Quem tem interesse nesse tema não pode deixar de visitar o seu blog ou ler suas matérias no Estadão.
Mas o título também é uma representação fiel do sentimento hoje predominante, infelizmente, nas conversas e matérias que tratam da produção de conhecimento ou do desenvolvimento do Brasil.
Professor David Kupfer especialista em políticas industriais cita cortes de 4,3 bilhões, somente em 2017, no orçamento do sistema nacional de C & T. Isso está perto da metade do que era em 2014. (Valor 10/06/2017). E a partir daí discorre sobre as consequências negativas para o desenvolvimento brasileiro que podem ser resumidas na constatação chave de que “ o momento brasileiro é grave “ e que é previsível o fracasso do ajuste econômico adotado além de falta de visão sobre os caminhos de saída da recessão, “que estão como o que congelando a energia empreendedora da sociedade.” Mostra que as políticas para as saídas das crises revelam as potencialidades das nações. “Nada está tão umbilicalmente conectado com a construção do futuro como a tríade ciência, tecnologia e inovação.” Mas, o cenário atual demonstra que nem os executivos públicos, nem os políticos e nem os operadores da justiça conhecem ou se preocupam com essa realidade das nações que influenciam o planeta e onde os cidadãos gozam de alta qualidade de vida.
Em uma tentativa de divulgar o problema e buscar apoio para sustar essa maluquice da atual equipe de temer, um conjunto de instituições elaborou e colocou no ar o Tesourômetro (veja www.conhecimentosemcorte.com.br) mostrando o corte minuto a minuto. Mas, isso é apenas uma visão de fluxo financeiro, certamente o prejuízo para a sociedade é muito maior, pois a retomada dos trabalhos e o atraso relativo que este cortes provocarão não tem medida possível.
Todavia, o problema não começou este ano. O jornalista Escobar já denunciava os cortes orçamentários ou a ignorância da equipe de governo, como preferir o leitor, desde 2016 quando publicou matérias no Estadão (29/08/2016) sob o título que tomamos emprestado para esta resenha.
“A ciência brasileira nunca esteve tão pobre. O orçamento do Ministério da Ciência,Tecnologia e Inovação (MCTI) para este ano é metade do que era em 2010 e um quarto menor do que dez anos atrás, em valores corrigidos pela inflação. Há institutos de pesquisa sem dinheiro até para pagar a conta de luz; e muitos temem que a situação piore em 2017. A proposta do governo, segundo o Estado apurou, é manter o orçamento da pasta congelado para o ano que vem,...”
"Se isso for aprovado, pode esquecer; acabou ciência e tecnologia no Brasil", diz o presidente da Academia Brasileira de Ciências, Luiz Davidovich...” que ainda acrescenta: “O orçamento atual do MCTI é de R$ 4,6 bilhões, dos quais R$ 500 milhões estão contingenciados, aproximadamente. O que a pasta pode gastar de verdade, portanto, são R$ 4,1 bilhões. Em valores corrigidos, esse limite de empenho é 27% menor do que em 2006 e 52% menor do que em 2010; enquanto que o número de pesquisadores em atividade no País cresceu 100% nos últimos dez anos. Ou seja, a demanda por recursos dobrou, enquanto que a oferta caiu pela metade.”
Seguem alguns outros parágrafos dos artigos de Escobar como aperitivo de nosso convite para que todos se atualizem sobre momento de graves riscos para os nossos sonhos de construir uma nação próspera.
"O que já era irrisório vai ficar ainda menor. É um absurdo; estamos andando para trás", diz a presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), Helena Nader. Países mais desenvolvidos, segundo ela, estão fazendo exatamente o oposto: investindo mais em ciência e tecnologia para fortalecer suas economias e sair da crise. "Conversamos com o presidente interino Michel Temer sobre isso e dissemos claramente que esse orçamento inviabiliza o desenvolvimento do País."
Para Davidovich, a falta investimentos no setor decorre de uma "miopia" dos governantes, que ainda não enxergam Ciência, Tecnologia e Inovação (CT&I) como algo estratégico para o desenvolvimento socioeconômico do País. O que se economiza com os cortes nessa área, segundo ele, é "insignificante" comparado a outros gastos do governo, com benefícios muito menores. "Ciência é um investimento barato que traz retornos gigantescos", diz Davidovich. "A China só aumenta investimentos em pesquisa e desenvolvimento. Aqui é o contrário."
"Quer sair da crise? Aprenda com a China, com os Estados Unidos e a Europa, que estão investindo mais em ciência e tecnologia", concorda Nader. O Brasil investe hoje menos de 1,5% do seu PIB em atividades de pesquisa e desenvolvimento. A China investe cerca de 2%, e no início deste ano anunciou meta de chegar a 2,5% até 2020, como estratégia de enfrentamento da crise econômica. Os Estados Unidos investem cerca de 2,8%, e a União Europeia quer chegar a 3% em 2020.
Para Nader, não reconhecer a importância da CT&I para o crescimento econômico do País é sinal de "fraqueza intelectual". "As pessoas acham que fazer agricultura é só plantar sementes; acham que no sucesso das commodities não tem ciência. Isso é muito perigoso", diz a pesquisadora. "O Brasil só ganha dinheiro com a soja hoje graças à ciência." Outros exemplos clássicos são a exploração de petróleo em águas profundas pela Petrobras, a produção de aviões pela Embraer, a produção de vacinas pela Fiocruz e Instituto Butantan. E, mais recentemente, a detecção, pesquisa e enfrentamento da epidemia de zika. "Quem foi que deu a resposta para o zika? Foi a ciência brasileira", completa Nader.
Ainda que a crise econômica seja passageira, diz Davidovich, o corte orçamentário proposto poderá significar uma geração perdida para a ciência brasileira, e um atraso significativo para o desenvolvimento do Brasil. "Estamos perdendo nossos jovens cientistas; é um crime contra o País", diz. "Essa história de fazer uma pausa para arrumar a casa e recomeçar depois não existe; pelo menos não em ciência. Vamos sair desta crise e logo entrar em outra."
"Não sentimos (todos os efeitos) de imediato, porque as pesquisas não param totalmente, mas haverá um grande impacto de longo prazo. Também é provável que muitos pesquisadores fiquem reticentes para apresentar projetos nesse contexto, prevendo que não serão financiados", diz o superintendente do Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (Ipen), José Carlos Bressiani.
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